Audiência Pública na Assembleia Legislativa critica venda de ações do Banrisul

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Apesar de terem motivos e objetivos diferentes, tanto os representantes da categoria bancária quanto os especialistas do mercado de capitais manifestaram-se contra a nova venda de ações do banco estadual, anunciada recentemente pelo governador Eduardo Leite. Durante a Audiência Pública sobre o tema, convocada pelos deputados Sebastião Mello (MDB) e Fábio Ostermann (Novo), realizada nesta manhã de quarta-feira, 04/09, na Assembleia Legislativa, o presidente do SindBancários, Everton Gimenis, destacou o papel social fundamental do Banrisul e criticou a venda de novas ações. Já o ex-presidente do banco Mateus Bandeira e a sócia da Zenith Management, Débora Morsch, representando o mercado de capitais, foram claramente contrários ao tipo de comercialização de “fatias” do banco, que a administração estadual anterior realizou e a atual já anunciou.

Infelizmente, nem o governador Leite nem qualquer representante da direção do banco compareceram à audiência pública. Ausências lamentadas por Gimenis: “O governo e a direção do banco fogem do debate. Quero lembrar que estados como Minas Gerais e Rio de Janeiro, que cumpriram a cartilha neoliberal e venderam seus respectivos bancos públicos, hoje estão falidos e não têm como utilizar estas instituições como instrumentos de crédito e desenvolvimento. Aqui no caso do RS, o Banrisul ajuda diretamente o governo, pois gera cerca de R$ 150 milhões em dividendos ao estado por ano”. Ele também lembrou que a ex-governadora Yeda Crusius vendeu ações do banco afirmando que iria fortalecer o Fundo de Previdência do Estado, mas botou todo o dinheiro no caixa único do governo, sem solucionar nada.

Tática da fragilização

O presidente do SindBancários também enfatizou o protagonismo do Sindicato, ao denunciar as inúmeras irregularidades nos leilões de ações do Banri realizadas durante o governo Sartori. “Denunciamos à Comissão de Valores Mobiliários da Bolsa de Valores e Tribunal de Contas/RS a ausência de comunicação de ‘fato relevante’ num leilão, entre outras ações obscuras”. Gimenis disse ainda que, ao contrário de José Ivo Sartori, o atual governador não quer vender todo o banco, mas por motivos puramente eleitoreiros: “Ele sabe que mais de 70% da população gaúcha é contra acabar com o grande banco público do estado”, explicou. “Por isso, a tática agora é ir desmontando, fragilizando o banco através destas vendas de ações até que fique tão precário que a população fique a favor da venda”, concluiu.

Já Mateus Bandeira também é contra a venda das ações: “A cada leilão, o Banrisul fica menor, o que é uma perda para o próprio banco e para o estado”, afirmou ele. “É preciso interromper este processo de dilapidação do patrimônio público”, disse. No entanto, é favorável a venda total do banco, deixando o desenvolvimento do estado por conta das iniciativas do mercado. Isto apesar de Everton Gimenis ter destacado que em cerca de 100 municípios do RS o único banco presente é o Banrisul, pois os bancos privados não instalam agências nestes lugares, pois não obtém os lucros que esperam.

Venda de lotes de ações

A convidada Débora Morsch, da Zenith, favorável a privatização, focou sua intervenção no formato de redução do banco através de leilões de ações: “Estamos falando na comercialização de 25 milhões de ações. Leite quer vender metade das ações do banco, mas com isso vai conseguir pagar apenas uma folha de pagamento do funcionalismo”, disse. E fez questão de destacar: “Todas as vendas de bancos no Brasil tiveram valores muito maiores do que as vendas através de lotes de ações”.

O deputado Zé Nunes (PT), presidente da Frente Parlamentar em Defesa do Banrisul Público, lamentou a ausência do governador ao debate e recordou que o Banrisul tem quase 3 milhões de correntistas. “Alguém acredita que o Rio Grande do Sul vai resolver algum de seus problemas se vender o Banrisul?”, indagou. O deputado disse que Leite até o momento não atraiu qualquer empresa nem mostrou um plano viável de desenvolvimento para o RS, ao contrário de outros estados do país. E finalizou: “Nosso banco é fundamental e precisa continuar forte para ser competitivo, para bem do estado”.

Sugestões finais

Ao final da audiência pública na Comissão de Economia, Desenvolvimento Sustentável e Turismo, o deputado Sebastião Mello fez três sugestões de encaminhamento, a partir do debate: 1. solicitar ao Tribunal de Contas/RS que acompanhe o processo de venda de ações do Banrisul; 2. encaminhar todo o debate para o Tribunal de Justiça do Estado; convocar o presidente do banco, Claudio Coutinho, para ser ouvido na Comissão da Assembleia Legislativa do Estado.

Além de Everton Gimenis, os trabalhadores bancários estiveram representados também na Audiência Pública pelo diretor do SindBancários Gilnei Nunes e os diretores da Fetrafi Fabio Soares Alves e Denise Falkenberg.

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