- Centrais sindicais lançam campanha em defesa das empresas e dos serviços públicos;
- PEC 32/2020 pode levar a população, que já sofre devido o sucateamento das empresas públicas, a ficar de vez sem os serviços públicos;
- Bolsonaro representa um projeto que visa a entrega do patrimônio público ao setor privado;
- Bancos públicos e toda a população podem ser afetados;
- Dados apontam que 42% dos municípios do país não possuem nenhuma agência bancária;
- Bancos privados concentram atuação na região Sudeste e, especificamente, na cidade de São Paulo.
A Central Única dos Trabalhadores (CUT) e demais centrais sindicais lançam, nesta quarta-feira (30), a Campanha Nacional em Defesa das Estatais e do Serviço Público. Serão realizados atos presenciais e virtuais em diversos locais do país.
A campanha será permanente e visa denunciar à sociedade os prejuízos
causados à população pelo processo de destruição do setor público
brasileiro, que vem sendo intensificado pelo governo de Jair Bolsonaro
(ex-PSL), com a busca de privatização de estatais estratégicas para o
país, diversos ataques aos servidores e o sucateamento do serviço
público prestado à população.
A população brasileira, que já
sofre com a falta de estrutura e as dificuldades de acesso a serviços
públicos, como na área da saúde e da seguridade social, com postos,
hospitais e agências do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) com
equipamentos velhos e sem o contingente suficiente de servidores para
prestar atendimento, corre o risco de perder totalmente o direito ao
serviço público. A proposta de Emenda Constitucional da reforma administrativa (EC 32), que Bolsonaro enviou ao Congresso,
faz com que os serviços públicos passem para as mãos de Organizações
Sociais (OS) e outros instrumentos que estão previstos em Lei que
precarizam o trabalho e baixam a qualidade dos serviços prestados ao
povo.
“A maioria da população já entendeu que se é público é para
todos e que o setor privado visa apenas o lucro, a exemplo dos planos
de saúde, que poucos podem pagar por um ótimo plano que dá acesso aos
melhores hospitais, exames e serviços. E quando o tratamento é muito
caro eles jogam o custo para o SUS. Cobram diferente conforme a faixa
etária tornando impeditivo para os que tem mais idade e que, normalmente
usam mais. O ideal é investir na saúde pública e esse governo está
fazendo o oposto, tirando recursos, mesmo na pandemia”, disse Juvandia
Moreira, presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo
Financeiro (Contraf-CUT), lembrando do aumento dos custos de energia,
gás e gasolina, que foram ou estão sendo repassados à iniciativa
privada.
Juvandia comentou também do desmonte dos Correios, que
está sendo promovido por Bolsonaro, lembrando da importância da empresa
para os brasileiros e que hoje está em todo o Brasil, mas se for
privatizado muitos municípios deixarão de receber encomendas; remédios
etc. levados pela empresa pública, assim como os bancos privados não
querem estar nos municípios menores.
“Bolsonaro representa um
projeto que visa a entrega do patrimônio público ao setor privado. Estão
promovendo um desmonte tamanho que, daqui a pouco, todos os brasileiros
terão de pagar pela saúde, pela educação, segurança, acesso a água e
por todos os demais serviços públicos. E somente quem vai conseguir
pagar são os ricos, não os trabalhadores, nem os profissionais liberais,
micro e pequenos empresários”, completou Juvandia presidenta da
Contraf-CUT.
Bancos públicos
Além dos trabalhadores de bancos públicos, toda a população pode ser
afetada pelas propostas do governo Bolsonaro, incluindo a Caixa
Econômica Federal, o Banco do Brasil e o Banco do Nordeste Brasileiro.
“Sabemos da importância dos serviços prestados pelos bancos públicos em
todo o país. Nos bairros e cidades afastados dos centros comerciais, o
serviço bancário é garantido somente pelos bancos públicos. Os bancos
privados concentram suas agências e sua atuação nas regiões e locais
onde a população tem maior renda”, disse a economista Vivian Machado, do
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos
(Dieese), ressaltando que o serviço prestado pelos bancos privados é uma
concessão pública.
Um levantamento realizado pelo Dieese aponta
que os bancos privados concentram sua atuação na região Sudeste, mais
especificamente na cidade de São Paulo. Essa realidade é constatada
tanto em número de agências, quanto no montante de crédito. Os dados
apontam que 42% dos municípios do país não possuem nenhuma agência
bancária. Em 7% não qualquer tipo de atendimento bancário. Os dados
mostram que, de janeiro a abril de 2020, foram fechadas 283 agências
bancárias no país.
Em 2012, os bancos atendiam 66% dos municípios brasileiros. Atualmente, em apenas 58%.
A redução de unidades atinge também os bancos públicos.
Nos últimos três anos a Caixa perdeu 42 agências. E março de 2017, o
banco contava com 3.414 agências; em março de 2020, com 3.372 agências.
No Banco do Brasil, a redução de agências começou a partir de 2015. No
final de dezembro de 2014 o BB possuía 5.524 agências. Em março de 2020
apenas 4.368. Uma redução de 1.156 unidades só do BB.
Em alguns
estados, a situação é extremamente crítica, como em Roraima, onde dos 15
municípios, apenas quatro contam com agências bancárias. Em três deles
existem apenas agências de bancos públicos. Bancos privados, apenas na
capital. “As pessoas precisam se deslocar por longas distâncias, irem
para outras cidades para poder contar com os serviços de um banco. Em
grande parte das vezes, quando encontra, precisa enfrentar longas filas,
porque os bancos, além de reduzir as agências, também estão reduzindo o
quadro de funcionários”, disse a economista Vivian Machado, do Dieese,
uma das responsáveis pelo levantamento das informações.
O
sucateamento, que afeta o atendimento à população, também ocorre com a
redução do quadro de funcionários. A Caixa, por exemplo, chegou a ter
101.484 empregados em 2014. Nos resultados do balanço do 1º trimestre de
2020, o banco informou que possui quadro de pessoal com 84.113
trabalhadores.
Concentração do crédito
A economista do Dieese afirma ainda que os bancos privados concentram sua atuação na região Sudeste. “Isso é constatado não apenas no número de agências, mas também na concessão de crédito. Os bancos privados só concedem mais crédito na região Sudeste, nas outras quatro, a maior parte do crédito é dos bancos públicos, chegando próximo aos 90% no Norte, Centro-Oeste e Nordeste e a 80% no Sul”, informou a economista do Dieese.
Dados do Banco Central apontam que 90,9% do crédito concedido no Norte tem origem nos bancos públicos; no Centro-Oeste, 88,1% provém de bancos públicos, no Nordeste 84,8% e no Sul 80,5%.
“Este número já foi maior, mas desde 2015 os governos estão reduzindo o poder de atuação dos bancos públicos”, alertou a economista do Dieese.
“Este é mais um dos motivos pelos quais é tão importante defendermos os bancos públicos. São eles que atendem as necessidades da sociedade. Os bancos privados se preocupam com o lucro e com a rentabilidade que terão com o negócio”, concluiu a presidenta da Contraf-CUT.
Fonte: Contraf CUT